26 dezembro 2010

Desistência




E aí tudo é perfeito.  A outra pessoa é bonita, inteligente, simpática, divertida. O papo é sempre bom; a química, melhor ainda. É para ele (ela) que você conta tudo. É ele (ela) quem sabe te tirar das nuvens cinzentas e fazer o sol brilhar no seu dia. É do abraço e do perfume dele (dela) que você sente falta.

Vocês são parecidos, mas não tanto a ponto de serem um espelho um do outro. O suficiente para ter algum tipo de debate/discussão e dar uma temperada nas conversas e decisões. A outra pessoa é paciente com suas manhas, com seus traumas. O sorriso dela faz acalmar seu coração.

Você fica em dúvida quando está com ele (ela): parece que o tempo parou, mas, de repente, você viu que o tempo voou e já é hora de ir cumprir as obrigações do dia-a-dia e deixar ele (ela) de lado. Você fica feliz quando vê o nick dele (dela) online no computador.

Mas, isso não é o suficiente. Nada nunca é.

***

É por essas e outras que eu não tenho paciência para essa coisa chamada amor.

11 dezembro 2010

Golpe de mestre

Foi de repente. Maria Luísa até hoje não sabe como, mas, apesar de ter se fechado em seu castelo, de repente, uma Horda estava lá dentro. Uma Horda bem amigável, diga-se de passagem, e por um bom tempo Maria Luísa curtiu ter sons e outras risadas tão perto. Aproveitou a companhia, compartilhou momentos. Até que começou a se preocupar. Afinal, seu castelo tão bem construído, seus jardins tão perfeitos... Ela sabia que, mais cedo, menos cedo, ia acontecer. Por algum motivo, a Horda iria pisar em seus amores-perfeitos, sujar os muros alvos, quebrar uma vidraça. Era o que sempre acontecia, e por isso os muros dos castelos tinham sido reforçados.

Tentou agir da maneira mais simples: mandou todo mundo embora. E o resultado foi péssimo: revoltada, a Horda esbravejou; cega, passou por cima de canteiros e quebrou muitas flores. Maria Luísa viu que não ia dar certo. E mudou a estratégia.

Ela foi lá e pintou os muros externos do mais lindo colorido. Espalhou cheiros, espalhou pássaros, espalhou música. Plantou flores bonitas no pântano que havia em torno do castelo. Ok, provavelmente a beleza disso tudo não duraria muito, mas Maria Luísa só precisava que elas durassem o suficiente.

A Horda percebeu a novidade. E foi saindo, silenciosa e pacificamente da perfeição e das maravilhas do castelo de Maria Luísa. Encantada com a beleza do pântano disfarçado, lá ficou. E Maria Luísa pôde novamente içar a ponte elevadiça, fechar todas as entradas e reforçar, pela centésima vez, os muros do castelo.

Exausta, porém segura, respirou aliviada.

21 novembro 2010

No supermercado

Parei e cheirei as velas. Odores e cores perfeitos para o teu quarto. E vi os espumantes, até aquela marca barata que compramos e bebemos no meio da rua, risonhos e felizes sob os olhares desconfiados da população local.
Ao contrário do que faria há alguns dias, não comprei nada. E a moça do caixa não entendeu que as lágrimas em meus olhos não eram pelo valor das minhas compras, mas sim pelo alto preço pago por aquilo que não devo mais levar.

14 novembro 2010

Pensando alto: dois anos depois

Há poucos dias me dei conta que já completaram dois anos desde que voltei a Florianópolis. Sem dúvida, uma decisão acertada, por mim e pelo Enzo. Mudei o corpo (menos 15 quilos, em média), mudei o endereço, voltei a ser mais eu mesma. Mudei o cabelo, primeiro o corte, depois a cor. Voltei a sorrir mais, a dormir mais, a querer mais.

E justamente esse querer mais criou uma esperança que há um ano e meio, mais ou menos, não muda. Mas que agora, contrariando o ditado, não poderá ser a última a morrer. E minha meta agora é abandonar essa esperança de qualquer jeito, nem que para isso tenha que torturá-la. E, olhando tudo o que mudei nesses últimos dois anos, não tenho dúvida de que conseguirei.

09 novembro 2010

Relembrando*

O que procuras nos meus olhos tristes 
eu já não posso te dar. 
Por que me apego a teus olhos turvos 
se os meus olhos tristes não conseguem te encarar? 
E grito à noite em silêncio 
e grito ao teu corpo junto ao meu. 
E grito, grito, grito 
mas tu não ouves o meu adeus.



*abril de 2006 . Mas pode ser útil volta e meia.

08 novembro 2010

100%

É, eu não posso mais acordar a hora que eu bem entender. Eu não posso mais ir à praia toda manhã, ou quase, como fiz nos últimos 16 dias. Eu não posso mais sair a qualquer hora, nem voltar a qualquer hora, ou mesmo sumir de casa por um dia todo. Eu perdi boa parte da minha liberdade dos últimos tempos. Voltei à rotina de médicos, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, e outros istas e ólogos. Mas só agora, com o Enzo em casa, tenho a sensação de que meu coração está completo.

07 novembro 2010

alma pequena

tem coisas que eu não consigo dizer
não porque não sejam verdades
não porque doam
não porque assustem
eu só não digo
porque não vale a pena

06 novembro 2010

02 novembro 2010

Nublando

e eu, que sempre gostei da celeridade do tempo, me pego sonhando com que ele parasse.
eu que sempre ansiei adiantar momentos,
eu que sempre consegui abafar sentimentos
agora experimento a vontade de congelar o agora
queria só um hoje, por muito tempo.
não deixei de acreditar no amanhã
mas transformar felicidade em ontem dá medo,
ainda que seja necessário.

17 outubro 2010

A vida é mais fácil assim

Não foi preciso fazer escolhas. O condutor, gentilmente, pegou-me pela mão, enlaçou minha cintura, deu-me um beijo doce e perguntou: por que não pulas? E deu um empurrão, de leve, muito leve.


O que eu não quis ver é que todo o caminho dos trilhos era sobre uma ponte. Ao pular, caí no desfiladeiro igual.

10 outubro 2010

Por que eu não consigo não dizer

ENQUETE

Então, você vê a propaganda: viagem de trem. Um trem charmoso, bonito, elegante. Você entra, vê que o serviço é excelente. Mas o condutor avisa: moça, o problema é um só: esse trem segue por trilhos que vão dar num despenhadeiro. O final da viagem não será feliz.

Eu me pergunto: você embarcaria? E, se embarcar... Você conseguiria esperar o fim tocando música como os músicos do Titanic? Ou quanto tempo esperaria para pular antes da queda no precipício?

02 junho 2010

O cocô do cavalo do bandido

Eu fico perguntando por que me importo. Eu não deveria dar bola, não deveria doer. Eu devia ser como a maior parte das pessoas: pisar, magoar, revidar. Não consigo. Cada dardo lançado dói demais em mim e parece ineficaz contra o "inimigo". Me sinto burra, totalmente inofensiva, quando eu queria era machucar. Mas não consigo me sentir errada.

07 maio 2010

Carta para o Enzo

Faz tempo que estou querendo te escrever, filho. Vai calhar que agora é Dia das Mães, mas não é por isso que a carta está sendo escrita agora. É porque o amor é tanto que não está dando mais pra guardar, eu PRECISO colocar para fora.

Bom, quando puderes ler isso, tu já vais saber que nunca fui uma mãe normal. Desde o começo, minhas expectativas sempre foram diferentes das expectativas da maioria das mães.

Depois de um certo ponto da gravidez, eu não torcia ansiosamente para que tu nascesse rápido. Eu queria era que tu ficasse o mais tempo possível dentro da barriga, para o teu próprio bem. Mas tu não quiseste, e lá fomos nós começar o desafio de aprender juntos a fazer tudo diferente.

Ao contrário das outras mães, eu não estava ansiosa para ter alta e ir pra casa. Porque eu sabia que tu não irias comigo.

Eu não estava ansiosa para trocar tuas fraldas. Eu queria que tu pudesse começar a usá-las, assim como as dezenas de roupinhas que aguardaram no armário mais de mês para poderem começar a entrar em uso - e muitas das quais nunca serviram (por ficarem grandes demais, também ao contrário do que costuma acontecer com a maioria das crianças).

Eu sonhava com o dia em que poderia te fazer dormir no meu colo, e não com a noite em que tu dormirias no teu berço. Sonhava com o dia em que poderia te pegar sem fios, sem pressa, sem ter que te devolver para a incubadora. Aliás, na primeira semana, queria era poder tirar tudo o que cobria o teu rosto e finalmente poder olhá-lo em detalhes, coisa que eu só fazia por uns raros minutos por dia.

E todos esses momentos vieram, e todos só aumentaram a felicidade que nasceu no dia em que eu soube que tu existias em mim.

E continuamos, quase três anos depois, na nossa rotina diferente de mãe e filho: esperei um pouco mais pelos teus passos, ainda mais pelas tuas palavras. Hoje, espero pelas palavras que não sejam apenas repetição pura e simples. Espero poder ouvir de ti como foi teu dia na creche, quem são teus melhores amigos, quais as tuas brincadeiras preferidas.

Espero pelo dia em que não precisaremos mais de vitaminas, remédios, terapias e consultas. Nem dos exames de sangue, ah, benditos e extenuantes exames, e sempre eu para te segurar, com o coração partido e um sorriso para disfarçar. Mas duvido que tu não perceba a dor dentro dos meus olhos, quando a gente se olha e sei, intimamente, que nós dois nos perguntamos: precisa mesmo isso? Sim, a gente sabe que precisa.

Mas essa minha vida de mãe não tem apenas expectativas adiadas – até porque eu sei que esses dias todos também chegarão. Tem momentos de amor e alegria infinitos.

Tu me surpreendes a cada dia ao aprender letras e números e músicas. Com o teu carinho, teu abraço pela manhã e teus pulos na minha barriga, para depois encostar a cabeça no meu umbigo e dizer: "ai ,que todoso".

Tu me fazes feliz com teus pulos incertos, com tua gargalhada ao me ouvir no telefone, com tua doçura estendida a todos que encontras no caminho. Com teu olhar deslumbrado pelo mundo, e com teu olhar observador, como quem capta mais do que consegue expressar, talvez mais do que devia. Com teu amor incondicional por mim. Com teu choro ao me perceber irritada. Com tua paciência.

Tu me ensinas com teus exemplos. De persistência, de coragem, até de teimosia. Contigo e por ti, aprendo a lutar pelo que é importante, pelo que é necessário, pelo que vale a pena. Aprendo a esquecer rápido aquilo que não prestou. Aprendi e aprendo a sorrir. Mesmo que esteja doendo.

E esse texto é pra dizer que, não sei como, eu ando ainda mais apaixonada por ti. Eu achava que já te amava com todo o amor que eu podia dar, mas descobri que não. Que, por ti, é sempre possível ir além.

Daquele tipo de amor que faz o dia cansativo e estressante virar nada quando chego em casa e te coloco na tua cama e converso contigo, na esperança que tu ouças enquanto dormes e possas entender um pouquinho do que sinto.

Do tipo de amor que faz meu dia mais feliz só de lembrar de ti. Que faz a gente sentir o cheiro e ouvir a voz da pessoa amada. Que dá uma saudade de doer o coração, ainda que faça poucas horas que a gente tenha se despedido.

Tu me fazes uma pessoa melhor e, mais importante, fazes eu realmente querer ser melhor. E eu tenho tentado, muito. Eu não sei se o Dia das Mães precisava existir. Mas quero criar um Dia do Filho pra ti. Tenho certeza que tu mereces mais do que eu.

19 abril 2010

No aguardo

E eu sigo esperando um sinal
procuro um manual
algo que me diga o que fazer
sem ter que pensar
sem ter que escolher
 
A vida seria bem mais simples
e menos sofrida
e menos divertida
sem o tal livre arbítrio

08 abril 2010

Divagando

Maria Luísa esmerou-se no muro que construíra para se proteger. Mas esqueceu que o perigo, justamente, era o que batia lá dentro.
Quando se deu conta, era tarde e ela estava sozinha. Gritou, pediu socorro, mas o som reverberava e voltava a seus ouvidos. Só o que chegava a Maria Luísa eram seu próprio eco e o som multiplicado das batidas de seu próprio coração.
Enquanto ela ajoelhava e chorava, apertada pelas paredes que construíra em volta de si, as pessoas passavam e diziam
- Não é uma fortaleza essa menina?

21 março 2010

Alguma coisa acontece no meu coração

E, de repente, me senti tão importante que os segundos lugares não me interessam mais. Não me interessam mais sorrisos incertos, vontades inseguras. Não me interessam mais saudades.

Não me interessa mais me esconder, nem negar, nem deixar pra depois. Mas continuo desinteressada em brigas e disputas. Só me interessa é ser feliz. Do meu jeito, comigo, e só.

07 março 2010

Tudo azul

Eu odeio o vazio. E quando sinto esse oco dentro de mim, odeio o meu medo, o meu conforto, a minha procura por um lugar seguro. Pra quê? Por que não deixar simplesmente acontecer o inevitável, em vez de me jogar contra a correnteza e lutar uma luta perdida desde o começo? O que dói mais: impedir a mim de ser eu mesma ou a derrota?

Ops... esqueci que essa briga constante é ser quem eu sou. Tudo certo então :P

14 fevereiro 2010

Ufa

E parece que saiu a sensação de aperto no peito. De que tinha alguma coisa errada. E, bom, acho até que tinha, mas agora, tudo está no seu lugar. E eu estou feliz, incrivelmente feliz.

O limão virou limonada. E tô pensando seriamente em fazer uma caipirinha agora!

08 fevereiro 2010

Confissão na boca alheia

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."


Caio Fernando Abreu

31 janeiro 2010

Feliz ano novo, finalmente

Uma noite de conversas e boa companhia para fazer brotar a vontade de avaliar, finalmente, o ano que passou e esse começo de 2010, que foi mais que intenso, com tudo de bom e ruim que um ano pode ter no curto espaço de 30 dias.
Nem vale a pena entrar nos detalhes, porque cotidiano só é interessante em novela. Mas 2009 me fez mais forte, me fez mais alegre, me fez mais amiga, mais divertida. Me fez também mais medrosa, mais fechada nos meus sentimentos, mais manhosa, talvez até mais egoísta. Depois de dois anos estranhos, finalmente um ano me fez voltar a ser mais eu mesma.