10 agosto 2011

Fique à vontade, senhora!

A dona Felicidade ia passando. Já ia além do meu jardim, quando decidi que ainda dava tempo e a chamei. Convidei para entrar. Talvez o convite tardio tenha tornado a atitude da dona Felicidade mais recatada. Muita gente já me disse que ela costuma chegar aos gritos e gargalhadas, com gestos largos, passos de dança.



Na minha casa ela foi entrando devagar. Há momentos mais extrovertidos e risadas gostosas, mas, por enquanto, ela fica ali, me olhando, sentada na sala de estar, taça de vinho na mão. Eu às vezes sinto falta da grande festa, mas quando a encaro, vale por um Carnaval.



E a dona Felicidade me parece tão à vontade que simplesmente não consigo pedir que fique, nem impedir que saia. Mas me parece que justamente a liberdade de ir é o que a tem mantido aqui.



E percebo que, se a dona Felicidade gosta de uma bagunça, ela gosta ainda mais de paz.